A
obesidade é um problema para as empresas?
Alberto José Niituma Ogata
A questão da obesidade está na
ordem do dia em nosso país, desde a revelação,
pelo IBGE de que mais de 40% da população
está com excesso de peso (obesos ou com sobrepeso).
Até o Presidente Lula resolveu participar do
debate ao afirmar que a pesquisa está errada
pois " fome não se mede em pesquisa e que
as pessoas têm vergonha de admitir que passam
fome". Na verdade, esta é uma tendência
que o próprio IBGE vem constatando há quase
três décadas no Brasil.
Assim, ao invés de assumirmos a atitude de "avestruz",
deveríamos procurar soluções e
políticas para enfrentar o problema.
Por exemplo, nos Estados Unidos, onde a obesidade
assume proporções epidêmicas, o
programa governamental "Healthy People 2010" estabelece
como metas a redução de 23% para 15%
a proporção de obesos com idade superior
a 20 anos e a elevação de 15% para 30%
o número de adultos envolvidos em atividade
física (pelo menos 30 minutos por dia, cinco
ou mais dias por semana). Para se atingir estes objetivos,
há o envolvimento de toda a sociedade, incluindo-se
as empresas, os meios de comunicação,
as ONGs e os profissionais de saúde.
O Inquérito Domiciliar sobre Comportamentos
de Risco e Morbidade do Ministério da Saúde,
realizado entre 2002 e 2003 mostrou que nas idades
mais avançadas o problema da obesidade e do
sobrepeso é ainda mais grave. Este estudo mostrou
que em São Paulo, o índice de pessoas
com peso acima do normal chega a 61%.
Além disso, devemos nos lembrar de que a maioria
da nossa população (65 a 70%) é sedentária.
De acordo com dados do IBOPE e publicados na Folha
de São Paulo, o brasileiro passa, em média
4 horas e 53 minutos por dia assistindo televisão
!
A epidemia da obesidade leva ao aumento do índice
de complicações e doenças associadas.
Recente pesquisa realizada pelo Centro de Vigilância
epidemiológica da Secretaria da Saúde
de São Paulo, mostrou que temos 7% de diabéticos
e 24% de hipertensos em nosso Estado, justificando
a presença das doenças cardiovasculares
no primeiro lugar no ranking de mortalidade entre adultos.
Em editorial na revista científica "São
Paulo Medical Journal", o Professor Paulo Lotufo
da Universidade de São Paulo sugere que a epidemia
da obesidade no Brasil permite prever que haverá um
pico de doenças coronarianas, apesar das medidas
de restrição ao tabagismo e ao tratamento
da hipertensão arterial.
E o que as empresas têm a ver com este problema
? De acordo com extensas pesquisas, o sobrepeso e a
obesidade estão fortemente associados a aumento
nos custos de assistência médica (despesas
até 44% maiores) e aumento no índice
de faltas ao trabalho (absentismo). Um estudo mostrou
aumento de 74% nas faltas acima de 7 dias e 61% nas
faltas de 3 a 6 dias, quando comparados os trabalhadores
de peso normal e os obesos. A explicação
lógica para este fato é a associação
entre a obesidade e doenças cardiovasculares,
o diabete e certos tipos de cânceres. Mas, provavelmente,
a obesidade, por si própria, pode ser um fator
associado a perda de produtividade no trabalho.
O ambiente de trabalho tem se demonstrado como um
espaço privilegiado para a abordagem da questão
da obesidade. Possibilita-se a realização
de programas mais abrangentes, com maior participação,melhor
disseminação das informações,
acompanhamento dos fatores de risco e apoio para as
mudanças comportamentais. Para o empregado,
estes programas constituem-se em oportunidade única.
Podem participar no próprio ambiente de trabalho,
freqüentemente com apoio financeiro da empresa,
tem a possibilidade de reduzir fatores de risco e melhorar
sua qualidade de vida.
No entanto, para que se atinjam os melhores resultados,
os programas devem ser bem elaborados, utilizando forte
base científica e apoio técnico. Os estudos
têm demonstrado que os programas de controle
do peso realizados no ambiente de trabalho representam
custo muito menor do que os realizados em clínicas
ou hospitais especializados.
Inicialmente, deve-se avaliar o número de empregados
com obesidade e sobrepeso, bem como a presença
de outros fatores de risco (colesterol elevado, sedentarismo,
tabagismo). Os participantes devem ser separados pelo
grau de obesidade para se determinar a abordagem a
ser adotada. Os programas devem envolver medidas de
informação, sensibilização
para mudança de comportamento, orientação
nutricional, estímulo para a prática
de atividade física e acompanhamento. As pessoas
com obesidade mórbida devem ser encaminhadas
para avaliação médica especializada.
Lembramos que devemos estabelecer metas realistas,
procurar parcerias com recursos disponíveis
na comunidade, como a Associação Brasileira
de Obesidade - ABESO (www.abeso.org.br), o CELAFISCS
(www.celafiscs.com.br) e o FUNCÓR (http://prevencao.cardiol.br/sbc-funcor).
A abordagem da obesidade no ambiente de trabalho possibilitará ter
empregados mais produtivos, com maior satisfação
e qualidade de vida e reduzir os custos com assistência
médica. Deste modo, acreditamos que a empresa
tem importante papel para contribuir na melhoria da
saúde e da qualidade de vida de nossa população,
iniciando a sua participação com os seus
colaboradores.
Fonte: ABVQ (Associação Brasileira de
Qualidade de Vida)
Autor: ALBERTO OGATA
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